Em defesa dos romances

Romance: o mais lido do mercado literário e, ao mesmo tempo, o que tem uma das piores reputações entre os apaixonados por livros.

Reputação essa, merecida? Não, definitivamente.

De todos os gêneros que eu tenho na minha estante, romance é o mais incompreendido mesmo sendo o mais amado, afinal, $8.9 bilhões de dólares do lucro do mercado literário é gerado pelo gênero.

Sendo assim, eu resolvi criar esse espaço para compartilhar (e defender) o gênero mais lindo do mundo. Prepare-se para conhecer heroínas a frente do seu tempo, heróis extremamente sedutores e paixões avassaladoras!


O romance enquanto gênero literário

Você ficaria surpreendida ao descobrir que os grandes clássicos da literatura que geralmente os sommeliers da literatura sugerem são, na verdade, romances. Jane Ausen, José de Alencar, Machado de Assis, as irmãs Bronté e Louisa May Alcott são grandes nomes da literatura e grandes escritores de romance.

Sim, Mulherzinhas é um romance. Lide com isso!

A verdade é que o gênero em si, segundo o Romance Writers of America, tem duas características básicas:

  • Precisa ter como centro do enredo uma história de amor. Ou seja, a história precisa girar em torno do relacionamento amoroso entre duas pessoas. Por exemplo, Elizabeth Bennet e Mr. Darcy de Orgulho e Preconceito.

  • O final do enredo precisa ser emocionalmente satisfatório e otimista – o que não necessariamente significa que os personagens precisam ficar juntos no final, mas a conclusão precisa dar aquela sensação gostosinha de felicidade no peito. Por exemplo, Amores Verdadeiros da Taylor Jenkins Reid.

Quando falamos de romance, a primeira coisa que vem na cabeça do leitor é: histórias de amor. E sem querer te decepcionar, mas já decepcionando, quando falamos de romance enquanto gênero, ele vai muito além de 50 Tons de Cinza e dos tanquinhos estampados nas capas dos livros de New Adult.

Inclui eles, mas não se resume a eles.  Pelo contrário, o gênero inclui uma infinidade de mundos e enredos se você estiver disposta a conhecê-los.

Todo mundo esquece que a série Dune é um romance. Ou Drácula, em uma época em que as pessoas não colocavam os romances dentro da caixa do romance “água com açúcar” ou simplesmente “pornô literário”.

Os subgêneros do romance

A verdade é o gênero romance pode ter o tom e estilo que o autor quiser. Ser ambientado em qualquer lugar ou época e ter níveis variados de teor sexual – apesar desta que vos fala acreditar que quanto mais, melhor!

A liberdade de configurações que o gênero permite nos trouxe alguns subgêneros – estes mesmos que fazem você acabar esquecendo que está lendo, na verdade, um romance. Alguns deles são:

  • Romance contemporâneo:  um dos maiores subgêneros do romance e que geralmente se passa no mesmo tempo em que foi escrito. Num geral, esse subgênero traz enredos de amor verdadeiro, enemies to lovers e discussões que desafiam os padrões da nossa sociedade.

  • Romance histórico: os romances históricos são ambientados antes de 1945 e contam com o retrato preciso do período. Tudo o que ocorre ou existe em um romance histórico é afetado pelas limitações daquela época, e a atenção aos detalhes também é parte importante do processo de escrita.

  • Romance de regência: o romance da regência é um exemplo de uma subcategoria de romance histórico, retratando histórias ambientadas durante a regência britânica (por volta do início do século XIX) e que se tornou popular pela famosa autora Jane Austen.

  • Romance especulativo: este subgênero inclui várias subcategorias, como o romance paranormal, que pode envolver uma variedade de elementos futurísticos ou de fantasia. A construção de mundos é um aspecto importante de qualquer romance de fantasia ou ficção científica e é útil na escrita de romances especulativos para manter seu mundo consistente e fundamentado, fornecendo um pano de fundo sólido para o desenrolar de sua história de amor.

  • Young/New Adult: os romances de jovens adultos mostram a vida dos jovens e muitas vezes contêm temas românticos dramáticos. Neste caso, os personagens devem refletir adequadamente sua idade – só porque alguém é “sábio além da idade” não significa que não tenha que lidar com os obstáculos emocionais do crescimento.

  • O New adult é um subgênero emergente semelhante ao adulto jovem, exceto que os personagens são um pouco mais velhos. Novos temas adultos geralmente tratam de jovens adultos sozinhos pela primeira vez, o que pode ser um caminho de descoberta emocionante para seus protagonistas.

  • Romance Dark: como o próprio nome já diz, são romances mais sombrios. Enredos que contenham sequestro, abuso físico ou psicológico, bullying etc dentro do seu enredo romântico podem ser classificados como romance dark. Um bom exemplo desse subgênero são os livros da colleen hoover.

O preconceito com o gênero

Existem aqueles que acreditam que a leitura de romance não traz benefício nenhum para o leitor. Outros que pregam que o gênero não tem “conteúdo” ou que nem mesmo é “literatura de verdade”. Ainda assim, romance é o gênero que mais foca na construção da conexão emocional entre o leitor e os personagens.

A questão é: romance é um gênero majoritariamente escrito por mulheres e para mulheres. E quando foi que isso não incomodou a nossa sociedade, não é mesmo?

As mulheres foram historicamente excluídas da literatura, e isso continua até hoje. A própria Julia Quinn, que conseguiu um contrato com a Netflix para adaptação de sua série ainda recebe duras críticas sobre os seus romances enquanto autores como Nicholas Sparks – que também escreve romance – é ovacionado.

Romance é um gênero cheio de vozes femininas. E autores não-binários também. Inclusive, e essa parte é bem legal: romance é o gênero onde você vai encontrar pouquíssimos homens-brancos-héteros para colocar na estante.

Eu costumo dizer que os romances são livros extremamente feministas, principalmente por ser o gênero que melhor consegue trazer para a ficção os nossos desejos, sonhos e vontades.

Ao mesmo tempo que as nossas protagonistas estão se apaixonando, elas também estão entrando mais profundamente em si mesmas, descobrindo força e independência, ou vulnerabilidade e honestidade, ou a coragem de enfrentar seus pais ou lutar uma guerra ou ter orgulho de quem são.

O poder do "felizes para sempre”

Existe um poder no “felizes para sempre” que eu sinto que acaba sendo esquecido no mercado literário.

Seja para mulheres, pessoas de cor, membros da comunidade LGBTQ+, as histórias que criamos dentro do mundo da ficção retratam sofrimentos e dores reais, mas dão um toque de esperança de que o cenário pode mudar.

O mais engraçado sobre o romance é que: a melhor parte dele é justamente você saber como vai terminar. Mesmo que você não tem ideia de como, nem quando isso vai acontecer, a única certeza é de que aqueles personagens vão, em algum momento, encontrar a felicidade.

Não seria maravilhoso se pudéssemos ter essa mesma certeza na nossa vida?

Livros não precisam ser tristes ou desafiadores para valer a pena. Às vezes tudo o que você precisa é de uma história que irá aquecer o seu coração e te encher de sentimentos e sensações maravilhosas.

E vamos ser honestas? Não tem nada melhor do que saber que as pessoas podem se apaixonar, que um cara pode querer fazer você gozar três vezes antes de tirar as próprias calças.

Subscribe to la oliphant

sobre as minhas experiências como leitora de romances

People

Uma intelectual contemporânea que entende a importância da convergência de mídias, telas e narrativas. Acompanhando mais séries do que deveria e não consigo fazer uma coisa de cada vez. E eu estou escrevendo um romance de época.